HISTÓRICO DA INFORMÁTICA EDUCATIVA NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL
EM NOVO HAMBURGO
Na década de 1980 o mundo sinalizava uma revolução digital. O uso de computadores trazia à luz das discussões e dos estudos uma nova ferramenta para a sociedade, porém até que ponto o uso destas novas tecnologias iria representar benefícios ou não para a sociedade da época?
Neste momento fervilhava aqui a vontade de desvendar a tecnologia para continuar desenvolvendo a região do Vale do Sinos e a área metropolitana de Porto Alegre, capital do Estado.
Na cidade de Novo Hamburgo - localizada no extremo sul do Brasil – não se pensava diferente. Este município que surgiu principalmente pela vinda de imigrantes europeus, inicialmente alemães (1824) e logo depois italianos, japoneses e demais etnias sem esquecer os índios que já habitavam esta região do Estado do Rio Grande do Sul, emancipada em 1927 de sua sede São Leopoldo.
Esta região se desenvolveu principalmente pela produção do setor coureiro calçadista onde se instalou diversas indústrias, o que impulsionou o fortalecimento destes centros urbanos.
Diante da provocação inovadora que as novas tecnologias estavam causando na época final do século passado, os empresários de Novo Hamburgo com a comunidade começaram a organizar um movimento de estudo e de apropriação a fim de motivar a região para a utilização e desmistificação das novas ferramentas tecnológicas, dando origem ao projeto intitulado AGORA.
Este movimento buscou várias parcerias e dialogou com diversos setores da comunidade, entre elas a Educação, sendo da rede privada e pública, quando em 1984, o município de Novo Hamburgo, através de sua Secretaria de Educação e Cultura - SEMEC, integrou-se ao "Projeto Agora".
Através desta iniciativa, foi firmado um convênio funcional, para fins de estudo e avaliação sobre a introdução da informática na educação, entre o "Projeto Agora”, LEC/UFRGS (Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e a Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
O início do trabalho nesta Secretaria foi possível a partir da doação de um microcomputador de um empresário hamburguense. O atendimento se estendeu a 12 crianças da rede municipal de ensino, a título experimental.
A partir desta experiência, a SEMEC enviou um projeto ao Ministério de Educação e Cultura – MEC, solicitando verba para a implantação do primeiro centro de informática para rede pública de ensino.
Ao ser confirmado o convênio entre o MEC e a SEMEC, em 1985, iniciou-se em Novo Hamburgo um trabalho pioneiro na América Latina: Informática Educativa na rede pública de ensino através do CEPIC – Centro de Preparação e Iniciação à Ciência da Informática. Os alunos oriundos das três redes de educação (municipal, estadual e particular) eram atendidos em horário contrário ao da escola, duas vezes por semana, com períodos de 45 minutos cada, no próprio prédio da Secretaria de Educação, localizado no centro da cidade.
Os profissionais que desempenhavam esta atividade, receberam formação específica na área de Informática Educativa, em curso promovido, inicialmente pelo Laboratório de Estudos Cognitivos da UFRGS e, mais tarde, com a descentralização do trabalho , os novos profissionais, foram capacitados pelos integrantes do Programa de Informática Educativa de Novo Hamburgo (CEPIC), ou seja, a própria equipe formando os novos integrantes. Foram denominados “facilitadores” – conforme definição de Gerard Bossuet, um dos primeiros autores que refletia sobre a Informática Educativa e sua proposta de implantação nas escolas.
Caracterizavam-se como equipe multidisciplinar, pois possuíam formação média diversificada (não necessariamente o Magistério) e Superior (completa ou em andamento) em diferentes áreas. Com a criação do Estatuto do Funcionalismo Público e o Plano de Carreira, denominou-se professor assistente de informática educativa - aquele que não possuía formação de Magistério e posteriormente facilitador.
No primeiro ano de funcionamento, este programa estendeu-se as duas redes de ensino: particular e pública (municipal e estadual), com o objetivo de divulgar, junto à comunidade, esta nova proposta. A partir de 1986, este projeto passou a atender somente aos alunos das escolas municipais, de pré-escola à 5ª série, e à comunidade, em horários alternativos. Foi garantido aos alunos que já participavam no projeto, ao sair da rede municipal, a continuidade neste por mais um ano, em turmas regulares ou através da modalidade de clube.
Em 1987 foram adquiridos novos equipamentos com recursos próprios da municipalidade iniciando a descentralização do atendimento, objetivando a aproximação com a comunidade escolar. Foi implantado um subcentro de Informática Educativa na zona rural: Lomba Grande, dentro da proposta do Projeto “Educação e Mudança - Do aipim ao computador”. Gradativamente, a partir dos resultados positivos desta primeira experiência, foram sendo implantados novos subcentros em diversos bairros da cidade. No centro permaneceu, além do atendimento regular ao 1º Grau, o atendimento com projetos diferenciados, tais como: Robótica - construção de protótipos de máquinas controlados por computador com o uso de kits FischerTecnick, Telemática - comunicação via Packet Radio, Multimídia - projeto desenvolvido usando os recursos de multimídia existentes somente em um computador, Alfabetização de Adultos – através da utilização dos recursos da Informática – e o Clube LOGO – que atendia alunos egressos das escolas municipais e comunidade em geral.
Ao longo deste período, foram realizados e ampliados diversos projetos: integração com as atividades de alfabetização e educação infantil, dentro de horário de aula; jornais; feiras; atividades artísticas; Telemática; Robótica; Multimídia; Alfabetização de Adultos; Pesquisas e Publicação de Artigos sobre a metodologia de trabalho; cursos para professores; e demais atividades de integração com a escola.
Devido à característica multidisciplinar da equipe de professores do CEPIC e ao trabalho inovador em desenvolvimento, houve desde o início a necessidade, acentuada pela descentralização, de encontros e reuniões semanais. A fim de manter uma linha comum de trabalho e constante atualização e acompanhamento dos profissionais, a equipe de coordenação geral do CEPIC, apesar das alterações políticas, buscava garantir a permanência dos encontros, destinando momentos para estudo de softwares, fundamentação teórica, troca de experiências, planejamento de atividades e divulgação dos trabalhos desenvolvidos, grupos de estudo para realização de pesquisas, e demais necessidades do grupo.
Os estudos realizados nestes encontros levaram a necessidade de acompanhar a continuidade dos projetos, através de registros sistemáticos sobre o trabalho dos alunos, além da elaboração do Relatório Final (documento relativo às atividades desenvolvidas durante o ano letivo). Com o objetivo de envolver um maior número de pessoas da comunidade escolar, divulgando a importância do Programa de Informática Educativa, elaborou-se uma ficha de avaliação descritiva, entregue aos pais pelo professor regente da turma, anexado ao Boletim Escolar. Esta ficha continha, além dos dados referentes aos projetos realizados, conceitos desenvolvidos, modificações percebidas na atividade de programação dos alunos durante o período e outras observações. Este período de preparação da avaliação dos alunos, permitia também uma auto-avaliação dos professores, promovendo mudanças qualitativas na prática pedagógica e exigindo aprofundamento teórico.
Em 1996, o Programa de Informática Educativa de Novo Hamburgo contava com 18 escolas municipais com laboratório de informática educativa e 84 computadores que atendiam uma clientela provinda de 56 escolas, distribuídas conforme a proximidade (zoneamento). Apesar da grande demanda (24 mil alunos em toda rede municipal), era atendida somente uma pequena parcela de alunos (12,5 %), professores e pais das escolas dos respectivos zoneamentos, devido ao reduzido número de equipamentos em cada subcentro, considerando sua densidade populacional.
Com o gradativo aumento da clientela de alunos do município, a estrutura de atendimento do Programa de Informática Educativa necessitou reformulação. Elaborou-se um planejamento, a ser implantado nos 10 anos seguintes, para substituição dos equipamentos obsoletos e reestruturação do atendimento, visando aprofundar a integração do trabalho de Informática Educativa com o de sala de aula, dando continuidade à metodologia coerente com o Construtivismo-Interacionismo, embasada nas propostas de Piaget, Papert, Paulo Freire, Vygotsky, entre outros. Idealizou-se o atendimento em horário de aula, com toda turma e acompanhamento do professor de classe, tanto no planejamento, como na realização e avaliação do trabalho.
No decorrer do ano de 1996, o MEC lançou o Programa Nacional de Informática Educativa - PROINFO, a ser implantado em escolas públicas, através de seleção via projeto de adesão. Os estados elaboraram seus Projetos de Informática na Educação, seguindo diretrizes do PROINFO/MEC. Tanto para elaboração do Programa Nacional, como do Projeto Estadual, o CEPIC serviu de referência no tangente à estrutura (existência de um coordenador do espaço em cada escola) e proposta pedagógica (construção de conhecimento através do recurso computacional). Constava no projeto Estadual de Informática na Educação/RS: “Há que salientar que o centro de informática educativa instalado em Novo Hamburgo, em 1984, foi o primeiro da rede pública municipal na América latina, realizando um trabalho pontual e difusor junto à rede pública de outros municípios.”
O PROINFO previa como metodologia ideal de trabalho a utilização pedagógica dos recursos de informática integrados ao trabalho de sala de aula, bem como a necessidade de formação continuada dos professores, criando assim os NTE´s (Núcleos de Tecnologia Educacional). Considerando a experiência de trabalho desenvolvido em Novo Hamburgo, o Projeto Estadual instituiu um NTE junto ao CEPIC, firmando uma parceria entre estado e município, único do estado com esta característica de integração a um projeto municipal já existente.
"Em 1997, as escolas públicas foram convidadas a ingressar nesse Projeto, tendo recebido subsídios para elaboração de seus próprios projetos para utilização da informática na educação”, inclusive pela equipe do NTE de Novo Hamburgo, para algumas escolas da região. Os projetos das escolas foram analisados por uma Comissão Técnica de Avaliação e Seleção, instituída em 29 de outubro de 1997 pela Secretaria de Educação do Estado -SE, composta por representantes das seguintes instituições: SCT, PROCERGS, UFRGS, PUCRS, CONSEME/UNDIME, ACPM, DEMEC/RS e SE. A SE recebeu a adesão de 638 escolas públicas que apresentaram seus projetos, dos quais foram selecionados 378, passíveis de ingressar no Projeto Estadual.” (http://www.educacao.rs.gov.br/)
Através deste projeto, 36 escolas municipais de Novo Hamburgo foram contempladas com laboratórios de 8 a 16 máquinas, em diferentes etapas de instalação de 1999 a 2004.
A Prefeitura Municipal, através de investimento próprio ou verbas provenientes de projetos federais, e as Associações de Pais e Professores das escolas municipais contribuíram para atualização dos equipamentos e aquisição de novos laboratórios.
A partir de 1999 com a implantação de um Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE agregando a estrutura do CEPIC e com o início da entrega dos equipamentos para 36 escolas municipais com o projeto de adesão aprovados, todos os alunos das escolas contempladas começaram a ser atendidos em seu horário de aula, com a participação do professor, o que exigiu deste um maior conhecimento, tanto quanto à questão técnica, quanto à discussão da metodologia. Esta parceria ocasionou a formação de multiplicadores e definição de uma linha de ação pedagógica nacional. Surgiu a oportunidade de integrar novas possibilidades e ideias de construção de ambientes de aprendizagem coletiva através das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) definindo uma proposta metodológica como orientação padrão do NTE.
Desde então o Centro de Informática Educativa de Novo Hamburgo vem desenvolvendo diversificadas ações, desde o atendimento a alunos, pais, professores e comunidade em geral, até a capacitação de professores para outros municípios. Tais experiências, lapidadas com constantes reflexões e avaliações, e a divulgação do trabalho na região favoreceram na conquista de vários Laboratórios de Informática Educativa para as escolas a partir do PROINFO em parceria com o Projeto Estadual de Informática Educativa.
As ampliações do projeto foram sendo implementadas e um número maior de escolas foi sendo agregado ao atendimento do programa através de recursos próprios e também por meio de programas federais. Atualmente a Rede Municipal de Educação de Novo Hamburgo conta com todas as escolas com equipamentos para o uso pedagógico o que projeta um grande sucesso destes homens e mulheres, professores e professoras, estudantes e comunidade que fizeram o futuro acontecer em Educação nesta cidade.
O Governo Federal, dando continuidade ao desenvolvimento do programa PROINFO, efetuou a reposição (“upgrade”) dos computadores dos LIE em 2010, baseada numa política de Software Livre. Paralelamente, neste período, investiu em outro projeto: Banda Larga nas Escolas, que contemplou as escolas urbanas, possibilitando acesso à internet com velocidade de, no mínimo, um Megabyte. A Prefeitura Municipal ainda precisou buscar algumas alternativas para expandir a internet para as escolas rurais e algumas urbanas, em virtude da limitação do serviço.
Ainda em 2010, duas escolas municipais de Novo Hamburgo tiveram a oportunidade de integrar-se à fase Piloto do PROUCA (Programa Um Computador por Aluno) do Governo Federal, através do qual, professores e alunos receberam laptops para uso nas atividades na escola e fora dela, promovendo a inclusão digital de toda comunidade envolvida. No âmbito municipal, o Programa foi rebatizado como Programa MundiNHo - “O mundo ao alcance das mãos”.
No ano de 2012, percebeu-se a importância e necessidade de atuarmos como Núcleo de Tecnologia Municipal - NTM, visto que o CEPIC trabalha na formação e capacitação dos professores da Rede Municipal de Ensino para o uso das tecnologias na educação, além de possibilitar todo o suporte técnico para as escolas do Ensino Fundamental. Esta necessidade de centralizarmos o atendimento, enquanto NTM, somente para as escolas municipais, possibilita intensificar o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para a melhoria do ensino público, capacitar alunos e professores, aumentar a assiduidade e reduzir a evasão escolar, fortalecer as culturas digitais através do uso adequado de ambientes virtuais e redes sociais, dentro e fora do contexto escolar.
No dia 14 de Agosto de 2013 o CEPIC recebeu homologação de seu projeto de NTM.